quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Amandlha Aweto!

No último dia 05 de dezembro, o mundo ficou muito, mas muito mais pobre. E não falo dessa pobreza material, aparente, que assola a tantos. Infelizmente, disso todo mundo já sabia; que muitos viventes são pobres. Falo de outra pobreza, ainda pior, porque irremediável. Nosso mundo ficou muito mais pobre de referências, porque Nelson Mandela passou. Não morreu, porque mitos como ele jamais morrem, mas passou. Mito sim, porque, negro, ousou erguer a voz em um país comandado por uma numericamente insignificante minoria branca, que oprimia mais de 80% da população negra pelo regime segregacionista institucionalizado do apartheid, negando aos negros o direito ao voto, instalando-os em bairros e escolas separadas, proibindo os casamentos ditos inter-raciais ou mistos e sugando-os dia a dia, para que proporcionassem aos poucos brancos uma vida confortável, quase europeia, no Sul do continente africano. Por desejar esse ideal, de um país com democracia igualitária, Mandela, condenado à prisão perpétua pelo regime do apartheid como preso político, pagou com 27 anos de sua vida. Contudo, ainda assim, revelou-se um grande líder, carismático ao extremo e engenhoso negociador, pois só aceitou deixar a cadeia quando a igualdade dos negros aos brancos estava também institucionalmente garantida, com a certeza de eleições livres e multirraciais para logo. Deixou a prisão em 1990, com pressões internacionais crescentes por sua libertação. Em 1993, dividiu com o então presidente da África do Sul – Frederik W. de Klerk – o Prêmio Nobel da Paz, pelos esforços conjuntos para pôr fim ao regime segregacionista do apartheid. Unificada a África do Sul, Mandela fez confraternizar seu país por meio do rugby, esporte originalmente branco e pelo pai da nova África do Sul tornado multirracial, como pode ser acompanhado assistindo-se ao filme Invictus, dirigido por Clint Eastwood. Hoje, os problemas políticos, de corrupção e má distribuição de renda que a África do Sul tem são em muito semelhantes àqueles que temos aqui no Brasil. Mas a institucionalização da segregação racial está banida, e este é o grande legado de Mandela, ou Madiba, como é conhecido. Em sua etnia, este é o nome dado aos sábios que se fazem respeitar não pelo autoritarismo, mas pelo longo conhecimento que possuem. Infelizmente, e como não poderia deixar de ser, a atuação política, social e pessoal de Madiba renovou a autoestima dos africanos do Sul como um todo, mas não tornou este país no melhor dos mundos. As tensões sociais legadas por mais de 300 anos de implacável domínio branco sobre outros grupos étnicos, prioritariamente negros, deixaram suas profundas cicatrizes, como pode ser percebido na leitura de Desonra, livro do prêmio Nobel de Literatura sul-africano J. M. Coetzee. Na trama, é constante a presença do “aturar-se” entre negros e brancos, na cobrança de dívidas seculares e na exposição de chagas sociais profundas ainda abertas, mesmo no regime pós-Mandela. Ainda faltou um pouco para que se aprendesse o significado da saudação que Madiba dirigia ao povo depois de deixar a cadeia, e que entitula esta crônica. “Amandlha aweto”, sendo a primeira palavra evocação de Mandela a seu povo e a outra resposta do povo a seu novo líder, ambas em auto e bom som, significa “Poder ao povo”. Aprender a administrar esta máxima sem as tensões sociais que perturbam a nova África do Sul de todos os grupos é tarefa para os sul-africanos do futuro. E por que eu, Yara, Branca, brasileira, nascida pouco antes de Madiba ser libertado, estou escrevendo tudo isso? Porque Madiba, que deixou o poder ao fim de seu primeiro mandato como primeiro presidente negro da África do Sul, escolhendo permanecer nas mentes e corações de seu povo como um símbolo, é a pessoa, em todo o mundo, que melhor simboliza a vida que escolhi para viver. Explico: Além de todas as minhas características que acabo de citar acima, sou, também, cega, como alguns dos possíveis leitores desta crônica sabem. Assim, para nós, cegos, é absolutamente inconcebível que uma pessoa primordialmente boa, reta, íntegra como Mandela, tenha pago com 27 anos de sua vida pelo sonho de um país em que as pessoas não sejam classificadas pela cor de sua pele. Para nós, cegos, a cor da pele de alguém, claro, não importa, mas, como se diz por aí, nosso buraco é ainda mais embaixo. Não só a cor da pele não nos importa, como, para nós, ela, real e virtualmente, NÃO EXISTE! Para nós, pele é pele, e pronto! O resto é conversa-mole, perda-de-tempo. Para nós a cor da pele de outra pessoa é uma ridícula convenção visual, vazia, absurda e sem nenhum sentido. Não só não admitimos que uma pessoa seja classificada pela cor de sua pele, como, primordialmente, não entendemos isso. E como não entendemos, também nem sequer aceitamos a existência dessa possibilidade; e pronto! Tenho dito. Que ninguém perca tempo tentando nos convencer de uma idiotice como essas; não importa quais sejam os argumentos; essa pessoa de raciocínio limitado, que vier nos falar de ideias tais, vai passar a vida toda dando murros em pontas de faca, porque para esse tipo de classificação imbecil, nossos ouvidos, alardeados como muito finos, são prazerosamente surdos. E antes que me esqueça: se eu um dia vier a enxergar e passar a me importar com esse tipo de ridicularismo, prefiro que a visão me seja novamente tirada ou que eu nunca venha a tê-la, porque isso seria prova imensa de falta de merecimento. A própria Bíblia diz: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti/Pois te é melhor que se perca um dos teus membros/Do que seja todo o teu corpo lançado no inferno”. (Mateus, 5-29). Tivessem as pessoas consciência do mal que seus julgamentos tolos, aparentes e levianos fazem, muito do sofrimento de Mandela poderia ter sido evitado. E digo tudo isso aqui, no Brasil, para que ninguém se engane. As mesmas tensões sociais retratadas por Coetzee também nos assolam no Brasil, ainda que de maneira velada. Vamos acabar de uma vez por todas com isso, vergonha das vergonhas! Muitos não admitem, mas, infelizmente, precisaríamos também, aqui, de um Nelson Mandela. Madiba, enterrado em 15 de dezembro, foi uma dessas pessoas iluminadas que o céu manda ao mundo de quando em quando; como o Dalai Lama, Mahatma Gandhi – que inspirou o próprio Mandela-, a princesa Diana de Gales, Madre Teresa de Calcutá, os Papas João Paulo II e Francisco, Chico Xavier... Para mim, o legado de Mandela que fica, além da não importância da cor da pele, é a grande importância do perdão que ele concedeu aos que o aprisionaram, abandonando rancor e vingança ao sair da cadeia e pregando igualdade social, e a fé firme em um mundo melhor. É engraçado, mas sinto um vazio por não tê-lo conhecido e por saber, agora, que isso jamais será possível neste mundo. Mas alegra-me saber que existiu, um dia, uma pessoa que entendeu a Fraternidade Universal da mesma forma como eu a concebo e sinto; e essa pessoa foi Nelson Mandela! O que vou dizer é muito pouco, mas também é tudo o que palavras humanas podem expressar: “Obrigada, Madiba! Que o senhor encontre a luz, o descanso e a paz! E que eu possa conhecê-lo na eternidade um dia, com sua estatura alta e seu sorriso sempre largo; essa mesma eternidade em que todos são irmãos, se dão as mãos e confraternizam! Até um dia, Madiba”! “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”. (Nelson Mandela – 1918-2013).

domingo, 15 de dezembro de 2013

Amandlha Aweto!

No último dia 05 de dezembro, o mundo ficou muito, mas muito mais pobre. E não falo dessa pobreza material, aparente, que assola a tantos. Infelizmente, disso todo mundo já sabia; que muitos viventes são pobres. Falo de outra pobreza, ainda pior, porque irremediável. Nosso mundo ficou muito mais pobre de referências, porque Nelson Mandela passou. Não morreu, porque mitos como ele jamais morrem, mas passou. Mito sim, porque, negro, ousou erguer a voz em um país comandado por uma numericamente insignificante minoria branca, que oprimia mais de 80% da população negra pelo regime segregacionista institucionalizado do apartheid, negando aos negros o direito ao voto, instalando-os em bairros e escolas separadas, proibindo os casamentos ditos interraciais ou mistos e sugando-os dia a dia, para que proporcionassem aos poucos brancos uma vida confortável, quase europeia, no Sul do continente africano. Por desejar esse ideal, de um país com democracia igualitária, Mandela, condenado à prisão perpétua pelo regime do apartheid como preso político, pagou com 27 anos de sua vida. Contudo, ainda assim, revelou-se um grande líder, carismático ao extremo e engenhoso negociador, pois só aceitou deixar a cadeia quando a igualdade dos negros aos brancos estava também institucionalmente garantida, com a certeza de eleições livres e multirraciais para logo. Unificada a África do Sul, Mandela fez confraternizar seu país por meio do Rugby, esporte originalmente branco e pelo pai da nova África do Sul tornado multirracial, como pode ser acompanhado assistindo-se ao filme Invictus, dirigido por Clint Eastwood. Hoje, os problemas políticos, de corrupção e má distribuição de renda que a África do Sul tem são em muito semelhantes àqueles que temos aqui no Brasil. Mas a institucionalização da segregação racial está banida, e este é o grande legado de Mandela, ou Madiba, como é conhecido. Em sua etnia, este é o nome dado aos sábios que se fazem respeitar não pelo autoritarismo, mas pelo longo conhecimento que possuem. Infelizmente, e como não poderia deixar de ser, a atuação política, social e pessoal de Madiba renovou a autoestima dos africanos do Sul como um todo, mas não tornou este país no melhor dos mundos. As tensões sociais legadas por mais de 300 anos de implacável domínio branco sobre outros grupos étnicos, prioritariamente negros, deixaram suas profundas cicatrizes, como pode ser percebido na leitura de Desonra, livro do prêmio Nobel de Literatura sul-africano J. M. Coetzee. Na trama, é constante a presença do “aturar-se” entre negros e brancos, na cobrança de dívidas seculares e na exposição de chagas sociais profundas ainda abertas, mesmo no regime pós-Mandela. Ainda faltou um pouco para que se aprendesse o significado da saudação que Madiba dirigia ao povo depois de deixar a cadeia, e que entitula esta crônica. “Amandlha aweto”, sendo a primeira palavra evocação de Mandela a seu povo e a outra resposta do povo a seu novo líder, ambas em auto e bom som, significa “Poder ao povo”. Aprender a administrar esta máxima sem as tensões sociais que perturbam a nova África do Sul de todos os grupos é tarefa para os sul-africanos do futuro. E por que eu, Yara, Branca, brasileira, nascida pouco antes de Madiba ser libertado, estou escrevendo tudo isso? Porque Madiba, que deixou o poder ao fim de seu primeiro mandato como primeiro presidente negro da África do Sul, escolhendo permanecer nas mentes e corações de seu povo como um símbolo, é a pessoa, em todo o mundo, que melhor simboliza a vida que escolhi para viver. Explico: Além de todas as minhas características que acabo de citar acima, sou, também, cega, como alguns dos possíveis leitores desta crônica sabem. Assim, para nós, cegos, é absolutamente inconcebível que uma pessoa primordialmente boa, reta, íntegra como Mandela, tenha pago com 27 anos de sua vida pelo sonho de um país em que as pessoas não sejam classificadas pela cor de sua pele. Para nós, cegos, a cor da pele de alguém, claro, não importa, mas, como se diz por aí, nosso buraco é ainda mais embaixo. Não só a cor da pele não nos importa, como, para nós, ela, real e virtualmente, NÃO EXISTE! Para nós, pele é pele, e pronto! O resto é conversa-mole, perda-de-tempo. Para nós a cor da pele de outra pessoa é uma ridícula convenção visual, vazia, absurda e sem nenhum sentido. Não só não admitimos que uma pessoa seja classificada pela cor de sua pele, como, primordialmente, não entendemos isso. E como não entendemos, também nem sequer aceitamos a existência dessa possibilidade; e pronto! Tenho dito. Que ninguém perca tempo tentando nos convencer de uma idiotice como essas; não importa quais sejam os argumentos; essa pessoa de raciocínio limitado, que vier nos falar de ideias tais, vai passar a vida toda dando murros em pontas de faca, porque para esse tipo de classificação imbecil, nossos ouvidos são prazerosamente surdos. E digo tudo isso aqui, no Brasil, para que ninguém se engane. As mesmas tensões sociais retratadas por Coetzee também nos assolam no Brasil, ainda que de maneira velada. Vamos acabar de uma vez por todas com isso, vergonha das vergonhas! Muitos não admitem, mas, infelizmente, precisaríamos também, aqui, de um Nelson Mandela. Madiba, enterrado hoje (15 de dezembro), foi uma dessas pessoas iluminadas que o céu manda ao mundo de quando em quando; como o Dalai Lama, Mahatma Gandhi – que inspirou o próprio Mandela-, a princesa Diana de Gales, Madre Teresa de Calcutá, o Papa Francisco... Para mim, o legado de Mandela que fica, além da não importância da cor da pele, é a grande importância do perdão que ele concedeu aos que o aprisionaram, abandonando rancor e vingança ao sair da cadeia e pregando igualdade social, e a fé firme em um mundo melhor. É engraçado, mas sinto um vazio por não tê-lo conhecido e por saber, agora, que isso jamais será possível neste mundo. Mas alegra-me saber que existiu, um dia, uma pessoa que entendeu a Fraternidade Universal da mesma forma como eu a concebo e sinto; e essa pessoa foi Nelson Mandela! O que vou dizer é muito pouco, mas também é tudo o que palavras humanas podem expressar: “Obrigada, Madiba! Que o senhor encontre a luz, o descanso e a paz! E que eu possa conhecê-lo na eternidade um dia, com sua estatura alta e seu sorriso sempre largo; essa mesma eternidade em que todos são irmãos, se dão as mãos e confraternizam! Até um dia, Madiba”!

sábado, 30 de novembro de 2013

03 de Dezembro - Dia Internacional de Luta das Pessoas com Deficiência

No dia 03 de dezembro recorda-se o Dia Internacional de Luta das Pessoas com Deficiência. Pensando nisso, separei dicas de vários sites e lugares, relativas aos mais variados tipos de deficiências e divido-as com vocês hoje, neste espaço, agradecendo muito aos amigos que as cederam. O post é longo, mas penso que vale muito a pena! No Brasil há, aproximadamente, 24 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Há seis tipos de barreiras que excluem esse grande contingente de brasileiros da vida normal em sociedade em nosso país: Barreira Arquitetônica não permite a acessibilidade das pessoas com deficiência, em razão de lhes oferecer dificuldades de locomoção. (ex: escada). Barreira Comunicacional: a linguagem verbal ou visual utilizada não alcança todas as pessoas com deficiência. Barreira Atitudinal: ocorre quando há atitudes preconceituosas por parte da sociedade dita “normal” em relação às pessoas com deficiência. Barreira Metodológica: são métodos de ensino, trabalho e lazer que não respeitam as necessidades individuais das pessoas com deficiência. Barreira Instrumental: se dá quando os instrumentos utilizados para trabalhar ou brincar não observam as condições mínimas exigidas, de acordo com as limitações das pessoas com deficiência. Barreira Programática: são leis, portarias, regulamentos e políticas que perpetuam a exclusão social das pessoas com deficiência. Enquanto a sociedade não remover essas barreiras, as pessoas com deficiência continuarão excluídas. Dicas Gerais de convivência com pessoas com deficiência: 1. é Errado: Evitar falar com as pessoas com deficiência sobre coisas que uma pessoa normal pode fazer e elas não. 2. É Certo: Conversar normalmente com as pessoas com deficiência, falando sobre todos os assuntos, pois é bom para elas saberem mesmo das coisas que não podem ouvir, ver ou participar por causa da limitação sensorial ou de movimentos. 3. É Errado: Elogiar ou depreciar uma pessoa com deficiência, somente por ela ter limitações. 4. É Certo: Tratar a pessoa com deficiência como alguém com limitações específicas da deficiência, porém com as mesmas qualidades e defeitos de qualquer ser humano. 5. é Errado: Superproteger a pessoa com deficiência, fazendo coisas por ela que não precisam nem devem ser feitas, se ela tiver condições de fazê-la sozinha. é Certo: Permitir que a pessoa com deficiência desenvolva ao máximo suas potencialidades, ajudando-a apenas quando for realmente necessário. 6. É Certo: Chamar a pessoa com deficiência pelo nome, como se faz com qualquer outra pessoa. 7. é Errado: Referir-se à deficiência da pessoa como uma desgraça, como algo que mereça piedade e vá ser compensado no céu. É Certo: Falar da deficiência como um problema, entre outros, que apenas limita a vida em certos aspectos específicos. 8. É Errado: Demonstrar pena da pessoa com deficiência ou dar-lhe esmolas. Lembre-se que, hoje em dia, muitas pessoas com deficiência trabalham, consomem, vivem exatamente como você e estão tão aptas para isso quanto você, e o objetivo é que seja assim com todas as pessoas com deficiência. É Certo: Tratar a pessoa com deficiência como alguém capaz de participar da vida em todos os sentidos, pois é assim que essas coisas se dão. 9. É Errado: Usar adjetivos como "maravilhoso", "fantástico" etc., cada vez que se vê uma pessoa com deficiência fazendo algo que aparentemente não conseguiria (por exemplo, ver o cego discar o telefone ou ver as horas, ver um surdo falar e/ou compreender o que lhe falam). É Certo: Conscientizar-se de que a pessoa com deficiência desenvolve estratégias diárias para superar normalmente os obstáculos, não mostrando espanto diante de um fato que é comum para ela. 10. É Errado: Referir-se às habilidades de uma pessoa com deficiência como "sexto sentido" (no caso do cego e surdo, por exemplo) ou como uma "compensação da natureza". É Certo: Encarar como decorrência normal da deficiência o desenvolvimento de habilidades que possam parecer extraordinárias para uma pessoa comum. 11. É Errado: Evitar usar as palavras ver, ouvir, andar, etc., diante de pessoas que sejam cegas, surdas ou privadas de movimentos. É Certo: Conversar normalmente com as pessoas com deficiência, para que não se sintam diferenciadas por perceptível constrangimento no falar do interlocutor. 12. É Errado: Deixar de oferecer ajuda a uma pessoa com deficiência em qualquer situação (por exemplo, cego atravessando a rua, pessoa de muleta subindo no ónibus etc.), mesmo que às vezes uma pessoa com deficiência interprete isto como gesto de piedade. A maioria das pessoas com deficiência necessita de ajuda em diversas situações. É Certo: Ajudar a pessoa com deficiência sempre que for realmente necessário, sem generalizar quaisquer experiências desagradáveis, atribuindo-as somente a pessoas com deficiência, pois podem acontecer também com as pessoas normais. 13. É Errado: Supervalorizar a pessoa com deficiência, achando que ela pode resolver qualquer problema sozinha (por exemplo, o cego alcançar qualquer porta apenas contando os passos, sem que alguém indique a direção). É Certo: Conscientizar-se de que as limitações de uma pessoa com deficiência são reais, e muitas vezes ela precisa de auxílio, como qualquer outra pessoa. 14. É Errado: Recusar a ajuda oferecida por uma pessoa com deficiência, em qualquer situação ou tarefa, por acreditar que ela não seja capaz de realizá-la. É Certo: Confiar na pessoa com deficiência, acreditando que ela só lhe oferecerá ajuda se estiver segura de poder fazer aquilo a que se propõe. A pessoa com deficiência conhece melhor do que ninguém suas limitações e capacidades. 15. É Errado: Segurar a pessoa com deficiência, na tentativa de ajudá-la, quando já houver uma pessoa orientando-a, principalmente no caso do cego. É Certo: Quando houver necessidade de ajuda ou orientação, apenas uma pessoa deve tocar a pessoa com deficiência, a não ser em situações muito específicas, que peçam mais ajuda (por exemplo, carregar uma cadeira de rodas para subir uma escada). 16. É Errado: Carregar a pessoa com deficiência, principalmente o cego, ajudá-lo a atravessar a rua, tomar condução, subir ou descer escadas sem que haja necessidade. É Certo: Auxiliar a pessoa com deficiência nestas situações apenas até o ponto em que realmente seja necessário, para evitar atrapalhá-la mais. 17. É Errado: Tratar a pessoa com deficiência com constrangimento, evitando falar sobre sua deficiência. É Certo: Conversar naturalmente com a pessoa com deficiência sobre sua deficiência, evitando porém perguntas em excesso. Na maioria dos casos, ela preferirá falar normalmente sobre aquilo que é apenas parte de sua vida, e não uma coisa anormal ou extraordinária, como possa parecer ao interlocutor. 18. É Errado: Avançar subitamente sobre a pessoa com deficiência por achar que ela não vai conseguir realizar uma tarefa (por exemplo, quando o cego está levando o garfo à boca), se a pessoa com deficiência não solicitar ajuda. É Certo: Permitir que a pessoa com deficiência realize sozinha suas tarefas, mesmo quando lhe pareça impossível. Só se deve socorrê-la em caso de perigo. Deficiência Visual – Como Lidar: – Cadeira no lugar: Quando você se levantar de uma cadeira, coloque-a no mesmo lugar em que ela estava, afinal, apesar de elas possuírem pernas, não andam sozinhas e não vão sair da frente se um cego estiver indo ao seu encontro. Será acidente na certa e o tombo valerá alguns hematomas e futuras gargalhadas. – Luz acesa ou apagada?: Para um cego total pouco importa se a luz está acesa ou apagada, então não se preocupe em sair correndo à sua frente somente para acender a luz quando ele estiver se dirigindo a um outro espaço da casa. Esta sua corrida pode gerar um tombo e a pessoa com deficiência visual não vai entender nada do que aconteceu, ficando com cara de “UÉ”, isto tinha a ver comigo? No entanto, não estranhe se um cego lhe perguntar pelo interruptor; ele pode querer acender a luz para as outras pessoas. – Copos de vidro: Procure utilizar copos de vidro e, de preferência, pesados, porque um cego procura um copo passando a mão, “de leve”, sobre a mesa para encontrá-lo, e se o recipiente for de plástico ou de vidro leve, quando sua mão bater no copo, certamente este virará. Novo acidente à vista e desta vez com consequências indiretas para a toalha de mesa ou o tapete da sala de jantar, que nada tinham a ver com a situação. – Feche as gavetas: Fechar gavetas e portas de armários não quebra a mão de ninguém, porém acidentes podem acontecer se um cego estiver andando e bater a perna nelas. Outro acidente iminente à vista... Então procure jamais esquecer de fechá-las, pois, dessa maneira, os seus antepassados nunca serão lembrados pela pessoa com deficiência visual em movimento. Outras dicas importantes: Se você andar com uma pessoa cega ou for ajudá-la a tomar uma condução ou atravessar a rua, pergunte-lhe antes se ela quer ajuda. Em caso afirmativo, deixe apenas que ela segure seu braço e conduza-a sempre em linha reta; não a empurre ou puxe, nem segure a ponta de sua bengala para orientá-la. O movimento do corpo do guia lhe dirá o que fazer. Dê as direções do modo mais claro possível; nunca se esqueça de que a sua esquerda é sempre a direita dela e vice-versa, a não ser que estejam ambos do mesmo lado. Use termos como "cima", "baixo", "à frente", "atrás" etc., para que ela possa se localizar melhor. Ao orientar a pessoa cega, nunca use termos como "ali", "lá", "isso", "aquilo" etc., tanto para dar direções, uanto em contextos escolares, de trabalho e outros, pois ela não está vendo os gestos de mãos e olhos que você está fazendo. Em passagens estreitas, apenas tome a frente e deixe-a segui-lo, colocando o braço que ela deve segurar para trás. Dessa forma, ela pisará somente onde você pisar, caminhando com segurança. Não bata a porta do automóvel onde haja uma pessoa cega sem ter a certeza de que você não vai prender os dedos dela; do contrário, você pode causar à pessoa cega um grande dano, já que os olhos do cego estão em suas mãos, mais precisamente nas pontas dos dedos. Se estiver com ela durante a refeição, pergunte-lhe se quer auxílio para cortar os alimentos ou servir-se, e explique-lhe a posição dos alimentos no prato, a localização do copo, guardanapos, talheres etc. nunca encha até a boca os copos ou xícaras que serão dados à pessoa cega, pois ela terá dificuldade em mantê-los equilibrados sem entornar o líquido. Identifique-se sempre ao aproximar-se de uma pessoa cega. Nunca utilize brincadeiras como o tão comum "--Adivinha quem é?". É muito constrangedor para o cego quando ele não sabe ou não pode dar a resposta desejada, ou quando erra essa resposta tentando acertar. Quando afastar-se, avise-o, para que ele não fique falando sozinho, pois essa é uma situação desagradável para qualquer pessoa. Se você for orientar uma pessoa cega a sentar-se, apenas coloque a mão dela sobre o braço ou o encosto da cadeira, e ela será perfeitamente capaz de fazer o resto. Se for orientá-la a subir ou descer uma escada, somente coloque a mão dela sobre o corrimão, e ela também será capaz de subir ou descer com facilidade. Jamais acaricie um cão-guia, afinal, ele não é um mero cão de companhia. Está trabalhando e não deve, sob nenhuma hipótese, ser distraído de seu dever. Todos sabemos que ninguém gosta de ser desconcentrado de suas atividades quando está trabalhando. Se você observar aspectos inadequados quanto à aparência ou vestuário de uma pessoa cega, não exite em avisá-la discretamente sobre meias trocadas, roupas pelo avesso, zíper aberto, movimentos ou posturas socialmente inadequadas. Nunca deixe portas e janelas entreabertas; prefira-as sempre totalmente abertas ou completamente fechadas, caso contrário a pessoa cega poderá se machucar ao colidir com elas. Se a mobília ou objetos forem mudados de lugar, a pessoa cega deverá ser sempre avisada, também a fim de evitar futuras colisões e não fazê-la procurar coisas inutilmente, sem poder encontrar. Se você for a um lugar desconhecido para a pessoa cega, diga-lhe discretamente como as coisas estão distribuídas no ambiente e quais as pessoas presentes. Se estiverem numa festa, certifique-se de que ela encontrou pessoas para conversar, de modo que se divirta tanto quanto você. Se você for apresentá-la a alguém, faça com que ela fique de frente para a pessoa apresentada,impedindo-a de estender a mão para o lado contrário ao qual essa pessoa se encontra. Nunca deixe de apertar a mão de uma pessoa cega ao encontrá-la ou despedir-se dela, pois, para ela, o aperto de mão substitui o sorriso; no entanto, tenha sempre o cuidado de ser você o primeiro a oferecer a mão ou o rosto para os cumprimentos. Não a deixe procurando por uma mão ou um rosto que ela não sabe exatamente onde encontrar. Isso é muito embaraçoso! Se você conversar com a pessoa cega, fale sempre diretamente com ela, e não com seu acompanhante, e nunca grite! Ela pode compreendê-lo perfeitamente bem e ouvir tão bem ou melhor do que você. Não evite palavras como "ver", "olhar", "cego" etc., pois a pessoa cega também as usa normalmente. As pessoas cegas são iguais a você:estão sempre interessadas no que você gosta de ver, ler, ouvir, falar, jogar etc.. Trate-as como você trataria normalmente qualquer pessoa; não as superproteja, impedindo-as de fazer o que sabem, podem e devem fazer sozinhas. Esse comportamento só irá limitá-las mais do que a própria cegueira o faz. Não se refira à cegueira como uma desgraça, pois, se o cego aceitar sua condição, ele certamente poderá superá-la e torná-la parte integrante de sua vida, como o são a família, o trabalho, os amigos etc.. Nunca diga que tem pena da pessoa cega; essas são palavras que ninguém precisa, nem gosta de ouvir. Tudo o que o cego deseja é ser tratado exatamente da mesma forma como são habitualmente tratadas todas as pessoas. Não tenha constrangimento em receber ajuda, admitir colaboração, ou aceitar gentilezas por parte de uma pessoa cega. Ela se sentirá muito bem em poder inverter os papéis e auxiliá-lo quando você precisar! Você Sabia?! -Uma moça cega pode se maquiar sozinha (maquiagem básica). -um cego pode andar de bicicleta em lugares sem trânsito. -um cego pode trocar o pneu de um carro. -uma pessoa cega pode fazer crochê e outros trabalhos artesanais com perfeição. -um cego pode fazer uma instalação elétrica simples. -um cego pode usar o computador. -um cego pode dar aula. -um cego pode enfiar uma linha numa agulha. -um cego pode jogar futebol. -um cego pode ler com a ponta dos dedos. Deficiência Auditiva – Como Lidar:  Não gritar;   Posicionar-se em frente à pessoa;   Fazer com que a boca esteja bem visível. Gesticular ou segurar algo em frente à boca torna impossível a leitura labial. Usar bigode também atrapalha.  Evitar ficar contra a luz (de uma janela, por exemplo), pois isso dificulta a visão do rosto do interlocutor.  Eliminar ruídos de fundo;   Usar vocabulário simples e frases claras.   Para chamar sua atenção, abane as mãos no campo visual do surdo e/ou toque a pessoa gentilmente;  Feito o contato visual, olhos nos olhos, fale calmamente, em tom de voz normal, articulando bem as palavras, sem exagerar;   Não gritar para chamar a atenção de uma pessoa surda que esteja em perigo. Procure chegar até ela o mais rapidamente possível, tentando ajudá-la. Lembre-se que uma pessoa que atravessa a rua pode ser surda, estando, por isso, impossibilitada de ouvir a buzina de seu carro.   Utilize a comunicação visual. Se você sabe poucos sinais, use-os! Não se envergonhe de apontar, desenhar, escrever ou dramatizar.  Seja expressivo ao falar.   Quando o surdo estiver acompanhado de um intérprete, dirija-se ao próprio surdo, não ao intérprete.   Não chame a atenção para o aparelho de surdez. Estimule o uso do aparelho, encarando-o com a mesma naturalidade com que são vistos os óculos.   Em nenhuma hipótese interfira no trabalho do intérprete, por mais que você se considere capaz em Língua de Sinais;  A Libras (Língua Brasileira de Sinais) é uma língua reconhecida pela Lei nº 10.436, de 24/04/2002, regulamentada pelo Decreto 5.626, de 22/12/2005;  Nem todo surdo fala Libras;  Não utilize o termo surdo-mudo, pois ser surdo não significa, necessariamente, não saber falar. O acompanhamento constante do intérprete de Libras nas aulas é essencial para o aluno surdo sinalizado. A implementação de legendas em vídeos e em tempo real em palestras e seminários e a distribuição de apostilas da matéria com texto explicativo equivalente ás dicas do professor passadas em aulas seriam de grande ajuda para os alunos surdos oralizados, que dependem em demasia da leitura orofacial e da língua portuguesa escrita. Os surdos oralizados também poderiam ter acompanhamento de intérpretes oralistas ou copistas, ou até de profissionais estenotipistas, mas são raros de encontrar e, precisamente no Brasil, tais profissionais não são regulares, porque não estão previstos especificamente na Lei, como o intérprete de Libras. Deficiência física – Como Lidar: o Para uma pessoa sentada em cadeira de rodas, é desconfortável ficar olhando para cima por muito tempo. Portanto, se a conversa for demorar mais do que alguns minutos e se for possível, sente-se, para que você e ela fiquem com os olhos no mesmo nível; o o A cadeira de rodas (assim como a bengala e a muleta) é considerada parte do espaço corporal da pessoa, quase uma extensão do seu corpo. Agarrar ou apoiar-se na cadeira de rodas é como agarrar ou apoiar-se na própria pessoa. Isso, muitas vezes, é simpático, “se você, por exemplo,”, for bem amigo, mas não deve ser feito se vocês não se conhecem tão bem; agarrar uma cadeira de rodas ou aparelho ortopédico é uma atitude tão agressiva quanto agarrar sem aviso o braço de uma pessoa com todos os sentidos em ação. Evite pendurar bolsas, casacos ou sacolas sem a permissão do cadeirante. o o Não movimente a cadeira de rodas sem antes pedir orientação para a pessoa; o o Empurrar uma pessoa em cadeira de rodas não é como empurrar um carrinho de supermercado. Quando estiver empurrando uma pessoa sentada numa cadeira de rodas e parar para conversar com alguém, lembre-se de virar a cadeira de frente, para que a pessoa sentada também possa participar da conversa; o o Ao empurrar uma pessoa em cadeira de rodas, faça-o com cuidado. Preste atenção para não bater nas pessoas que caminham à frente ou esbarrar no móvel ou parede. o o Para subir degraus, incline a cadeira para trás, levante as rodinhas da frente e apóie sobre o degrau. o o Para descer um degrau, é mais seguro fazê-lo de marcha à ré, sempre apoiando para que a descida seja sem solavancos. o o Para subir ou descer mais de um degrau em seqüência, será melhor pedir a ajuda de mais uma pessoa; o o Se você estiver acompanhando uma pessoa com deficiência que anda devagar, com auxílio ou não de aparelhos ou bengalas, procure acompanhar o ritmo de seus passos e tome cuidado para não esbarrar em seus equipamentos. o o Mantenha as muletas, andador ou bengala, sempre próximos à pessoa com deficiência; o o Se achar que ela está em dificuldades, ofereça ajuda. Caso seja aceita, pergunte como deve fazê-lo. Às vezes, uma tentativa de ajuda inadequada pode até mesmo atrapalhar. Outras vezes, a ajuda é essencial. Pergunte e saberá como agir. Não se ofenda se a ajuda for recusada; o o Se você presenciar um tombo de uma pessoa com deficiência, ofereça ajuda imediatamente. Mas nunca ajude sem perguntar como deve fazer; o o Esteja atento para a existência de barreiras arquitetônicas quando for escolher uma casa, restaurante, teatro ou qualquer outro local que queira visitar com uma pessoa com deficiência física; o o A pessoa com paralisia cerebral pode ter dificuldades para andar, pode fazer movimentos involuntários com pernas e braços e pode apresentar expressões estranhas no rosto. Não se intimide com isso. São pessoas comuns como você. Geralmente, têm inteligência normal ou, às vezes, até acima da média; o o Se a pessoa tiver dificuldade na fala e você não compreender imediatamente o que ela está dizendo, peça para que repita. Pessoas com dificuldades desse tipo não se incomodam de repetir quantas vezes sejam necessárias para que se façam entender; o o Não se acanhe em usar palavras como "andar" e "correr". As pessoas com deficiência física empregam naturalmente essas mesmas palavras; o o Relacione-se com a pessoa com deficiência física com amor, consideração e respeito, acreditando em seu potencial. Deficiência Intelectual – Como Lidar: A Deficiência Intelectual não é uma doença, mas uma limitação. A pessoa com Deficiência Intelectual deve receber acompanhamento médico e estímulos, através de trabalhos terapêuticos com psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. De forma geral, a pessoa com Deficiência Intelectual tem, como qualquer outra, dificuldades e potencialidades. Seu acompanhamento consiste em reforçar e favorecer o desenvolvimento destas potencialidades e proporcionar o apoio necessário às suas dificuldades, garantindo seu bem-estar e inclusão na sociedade. A inclusão é um instrumento extremamente importante na determinação da qualidade de vida dessa pessoa, pois permite o acesso a todos os recursos da comunidade, que favorecerão o seu desenvolvimento global, reforçarão a sua autonomia e ajudarão a construir a sua cidadania. Como qualquer um de nós, a pessoa com Deficiência Intelectual percebe tudo o que se passa ao seu redor. Pessoas com deficiência intelectual ou cognitiva costumam apresentar dificuldades para resolver problemas, compreender ideias abstratas, estabelecer relações sociais, compreender e obedecer a regras, e realizar atividades cotidianas - como, por exemplo, as ações de autocuidado. As causas são variadas e complexas, sendo a genética a mais comum, assim como as complicações perinatais, a má-formação fetal ou problemas durante a gravidez. A desnutrição severa e o envenenamento por metais pesados durante a infância também podem acarretar problemas graves para o desenvolvimento intelectual, apresentando algumas das seguintes situações: Síndrome de Down; Síndrome do X-Frágil; Síndrome do Cri du chat (miado do gato); Síndrome de Prader-Willi; Síndrome de Angelman; Erros Inatos de Metabolismo (Fenilcetonúria, Hipotireoidismo congênito, etc.). Deficiência Múltipla – Como Lidar: A deficiência múltipla é a associação de duas ou mais deficiências: física, visual, auditiva ou intelectual. Respeite as limitações da pessoa com deficiência múltipla, valorize suas potencialidades, seja natural e evite superproteção.

sábado, 21 de setembro de 2013

Isso? Cego pode!

Cego pode: Pular de pára-quedas; Voar de asa delta; Fotografar sozinho; Dominar o computador e outras tecnologias por dentro e por fora; Fazer faculdade e alcançar outras titulações; Ser jornalista, professor, advogado e tudo mais que lhe der na telha; Morar sozinho; Cuidar da casa e dos filhos; Ler muito; Escrever beeem pra caramba; Surfar; Mergulhar; Praticar um sem-número de esportes que você nem imagina; Falar outros idiomas; Andar sozinho a pé, de ônibus, de avião, de navio...; Tocar piano, flauta, violão, bateria, cantar em coral... e sozinho também; Dançar; Participar de grupo de teatro; Tudo isso como se enxergasse! É só ter alguém com disposição de ensinar que ele aprende facinho facinho. Mas se disserem que ele não pode, a persistência é tanta pra provar que pode que o resultado também chega. Você sabia? Não acredita? Diz que ele não pode e você vai ver o resultado. Oxalá chegue o dia em que não seja preciso provar nada a ninguém além de si mesmo! E tenho dito. P.S.: sei que faltaram muitas outras coisas que os cegos podem fazer. Se mais algum cego ou pessoa que convive cotidianamente quiser completar a lista nos comentários, esteja à vontade. Fui!

sábado, 31 de agosto de 2013

O Lado Obscuro das Condutas Coletivas

Ainda outro dia eu estava dando uma olhada nos substantivos coletivos da nossa língua, aqueles que dizem sobre conjuntos de seres da mesma espécie, sabem? Nessa olhadinha, cheguei a uma conclusão aterradora: a língua portuguesa tem uma quantidade assustadora de palavras que designam conjuntos de ladrões, de desordeiros, de assassinos e de malfeitores, ou seja, via de regra, de gente da pior espécie, quer ver? Espia: Bando: conjunto de desordeiros ou malfeitores (excluído aqui o sentido genérico de multidão que bando tem no português atual do Brasil); Cambada: conjunto de desordeiros ou malfeitores, excluído aqui o sentido em que mais usamos este coletivo no português atual do Brasil, que é o de turma (de amigos, de colegas de sala etc.); Caterva: conjunto de desordeiros ou malfeitores; Choldra: conjunto de assassinos ou malfeitores; Corja: conjunto de ladrões ou malfeitores; Horda: conjunto de bandidos, invasores; Malta: conjunto de malfeitores ou desordeiros; Quadrilha: conjunto de ladrões ou malfeitores (essa a gente usa atualmente no Brasil até pra colarinhos brancos, né mesmo? Virou moda); Súcia: conjunto de desordeiros ou malfeitores. Ufa! Viram só o que eu disse?! Não acreditaram?! Confiram lá no dicionário, são nada mais, nada menos do que nove (9) os coletivos que encontrei para designar essa escória! Por que será que precisamos de tudo isso, só pra falar de gente ruim??? Alguém arrisca um palpite? Vou começar, expondo minha teoria sobre isso. Não sei se outras línguas têm a mesma quantidade de coletivos desse gênero; se alguém que entender com mais aprofundamento de outra língua quiser colaborar, agradeço. O espaço fica aberto aqui nos “comentários”. Mas pensem só comigo: se agora temos de tudo no Brasil em termos de banditismo; se temos até mesmo um deputado-presidiário, que foi mantido no congresso pelos próprios pares, mesmo com acusações de corrupção comprovadas, é realmente necessário dispor de tantas maneiras de dizer, não acham? E antes que alguém me alerte para o fato de eu ter escrito congresso assim mesmo, com letra minúscula, digo desde já que foi proposital. Nosso congresso, em termos de atitude e de representatividade, anda cada vez mais minúsculo! A mim, asseguro-lhes, ele não representa já há muito tempo, se é que um dia foi capaz de me representar. E depois, tanta gente, de todos os escalões, esbraveja quando a juventude deste país tão sofrido e enxovalhado bota a cara (limpa) na rua. Com essa política mumificada que temos, contanto com congressistas que fazem parte do nosso cotidiano político há mais de cinquenta (50) anos, demoramos muito para ir para as ruas. E olha que já está passando da hora de voltar! Vândalos, destruidores, há em todos os lugares. Nesses movimentos dignos de reivindicações, infelizmente também há que haver. Mas a maioria somos nós, os brasileiros já fatigados de tanta ladroagem, de cima para baixo e debaixo para cima; fatigados de tanta bagunça; de tanta crueldade. Com quase uma dúzia de coletivos, não há palavras capazes de expressar a indignação generalizada deste país, que paga os impostos mais abusivos do mundo e recebe os piores serviços que se poderia obter dos prestadores. Basta, Brasil!

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Um Dia de Mona Lisa

Desta vez publico um texto inédito sobre minha experiência sensorial com a pintura, apesar da cegueira. Espero que gostem! Sábado pela manhã. Dia ensolarado, preguiçoso, último dia na Terra em que se pensa em estudos,em ler, em raciocinar demais. Mas às vezes, quando se escolhe fazer uma Pós-Graduação, a gente não tem muito por onde fugir: os sábados são normalmente os dias premiados; e, também naquele dia, assim era. Aula de Produção de Texto – especificamente, pretendíamos atacar a complicada distinção entre tipos e gêneros textuais, uma das mais intrincadas e palpitantes discussões da linguística contemporânea. Assunto que vinha e vem consumindo os principais nomes da área que conhecemos na faculdade e que, naquele dia, nos consumiria também. E como professora, que tentaria nos conduzir pelos dionisíacos caminhos que ligam os tipos e os gêneros dos textos, orais e escritos para complicar mais um pouco, tínhamos a professora Elisabeth, que para nós, já há alguns anos, desde a Graduação, era simplesmente a Beth. Mas o apelido curto, carinhoso da forma como até hoje o evoco, teve, desde que a conheci, um bocado de temor para muitos dos alunos. A Beth, durante todo o tempo em que convivi com ela, sempre foi sim uma professora indiscutivelmente enérgica, dada a rompantes repentinos e devastadores, mas que logo passavam, como se tudo tivesse estado inabalavelmente calmo durante o tempo inteiro; assim, era preciso estar preparado para enfrentar a tempestade a qualquer momento, porque era certo que a calmaria viria em seguida. Esta era a presença, que igualmente sabia ser delicada e terna com aqueles que dessa forma aprendessem a conhecê-la, que tínhamos conosco naquele dia. Começaram então as apresentações das famosas transparências da Beth, e, abordando-se a tipologia das descrições, iniciaram-se também as aparições das diversas paródias de Monalisa, acompanhadas da figura original, claro. Os sorrisos e outras expressões faciais da classe apresentavam-se a cada paródia e permeavam as descrições feitas delas. Ah, as descrições... Elas é que me salvavam um pouco. Quando a gente persegue os acontecimentos só ouvindo, prestar atenção às descrições alheias e captar cada detalhe que normalmente passaria despercebido é fundamental. Tudo estaria perfeito para o bom entendimento da sala e para os planos tão cuidadosamente preparados pela Beth, não fosse por um pequeno detalhe: eu nunca havia visto nada, simplesmente porque não vejo, real assim, diferente assim, normal, assim. Então, consequentemente, nunca havia visto a Monalisa e não tinha a mínima ideia de muita coisa do que estava sendo dito, tanto pela Beth, quanto pela classe, mas, persistente, continuei atenta até o fim das descrições de Monalisa; eu só admitiria que não sabia quase nada sobre isso no momento certo de admitir, que ainda demorou um pouco a chegar. O pouco que eu sabia da pintura mais famosa de da Vinci, colhendo um detalhe aqui e outro ali com o passar dos anos, era que se tratava de uma mulher que tinha o que muitas pessoas chamam de um meio-sorriso, cabelos compridos repartidos ao meio e vestes simples, mas isso definitivamente era muito pouco para a quantidade de detalhes que as descrições pormenorizadas da Beth evocavam, acentuando para nós uma das finalidades primordiais desta tipologia textual. Na escola, ainda durante a adolescência, eu tinha uma colega que insistia em me chamar de Monalisa – dizia que era por causa dos meus cabelos – mas nunca liguei muito para isso. Me lembrei desse fato com saudades daqueles tempos e achando engraçado e fui deixando a aula fluir. Até que percebi que não haveria outra saída se não compartilhar socraticamente a minha quase ignorância sobre a Gioconda. Esperei um silêncio da sala e disparei: - Beth, como é a Monalisa? Só então todas as pessoas que estavam na sala se deram conta de que aquele quadro era praticamente desconhecido para mim, do mesmo modo como a grande maioria das pinturas. Esperei por uma descrição pormenorizada em palavras, por detalhes não sabidos: cores, a postura, o rosto... E, de certa forma, tive tudo isso, mas não foram palavras que me trouxeram a Monalisa, e sim gestos que, de início, me deixaram atônita; contentíssima, mas atônita. Beth veio vindo na minha direção, enquanto eu sentia se aproximar o perfume suave que ela sempre usava, pensando: - Ué, como será que ela pretende responder a minha pergunta? O que será que vai fazer? Estávamos todas sentadas em cadeiras de plástico acompanhadas por mesas quadradas, cada uma com a sua. Beth se aproximou da minha diagonal superior direita e me disse, séria, para sentar com as costas retas na cadeira; obedeci. Então, ela pôs no lugar, com suavidade, os fios desalinhados dos meus cabelos de modo que ficassem repartidos ao meio como os da Monalisa, e com ambas as mãos, uma de cada lado, pegou no meu rosto com modos delicados e o fez virar um tantinho para a direita. Nesse momento entendi a forma que ela havia escolhido de responder a pergunta que fiz e descobri qual a minha parte nessa demonstração: congelar a imagem, conservar cada detalhe que os gestos dela meio que desenhavam usando de forma concreta o meu próprio corpo, para obter, no final, um pouco da imagem da Monalisa projetada em mim. Então, acrescentando novos detalhes àquela imagem em formação, continuou a voz da Beth sob o silêncio paciente do restante das meninas, cruzando meus braços sobre o peito, um sobre o outro, de modo a colocar as palmas das minhas mãos apoiando as partes externas e laterais dos cotovelos opostos: - Dá um sorriso. Assim fiz, mas aquela experiência tão inusitada me deixava tão feliz com a descoberta que ia gradualmente se formando em mim, que aquilo que era para ser um sorriso enigmático acabou se revelando um sorriso de orelha a orelha, como se diz. - Não! – disse Beth, séria, mas com nítida vontade de sorrir também. - Você sorriu demais! A Monalisa não é assim. Ela tem um sorriso enigmático. – continuou a explicar, agora com seriedade completa na voz, como a relembrar cuidadosamente cada detalhe, a fim de me proporcionar a melhor concretização possível. - Vamos ver se consigo te descrever com propriedade como é um sorriso enigmático: diminui, vai diminuindo até eu dizer que está bom. Pensei em como seria difícil fazer aquilo, mas eu não desistiria nos retoques finais da projeção da pintura, afinal de contas, não é todo dia que alguém tem diante de si a oportunidade de personificar a Monalisa sem jamais tê-la visto, e, naquela hora, eu era a Gioconda! eu. Tratei de conservar com afinco os outros detalhes conseguidos nos minutos anteriores e me concentrei. Me lembrei que as rosas eram assim: grandes, pujantes a seu modo quando ainda frescas, diminuíam de tamanho conforme a passagem dos dias; era aquilo então que eu teria de fazer com o meu próprio rosto: diminuir o meu sorriso sem apagá-lo por completo. E assim foi: Tratei de ir contraindo vagarosamente a musculatura da face até que sobrasse apenas um movimento dos cantos da boca, prestando minuciosa atenção aos músculos em retração para não enrijecê-los ou movê-los rápido demais, como quem toca uma melodiosa e melancólica sanfona que lentamente se fecha em suas notas longas e plangentes, e, sim, estava conseguindo, porque conforme aquele meu sorriso murchava, sendo porém ainda sorriso, fui ouvindo da Beth, paciente a minha frente, olhando e esperando: - Isso! Assim! Um pouco mais! Quer dizer, um pouco menos! Ah, você entendeu. – disse ela sorrindo com ternura cuidadosa e ainda um pouco de prevenção, para não me contagiar e estragar a performance, eu acho. – Falta pouco. – completou. - Aí! Assim! Isso! Yara, sinta bastante, guarde bem, este é o sorriso da Monalisa. – disse ela, agora sorrindo abertamente, satisfeita. Contente, com expressão de “Missão cumprida!” no rosto, afastou-se para continuar a aula, suspensa por aqueles minutos, pois todas as alunas, naquele dia, foram gentis e silenciosas expectadoras e cúmplices da minha descoberta. A minha descoberta! Naquele dia eu soubera o que tantos espectadores do mundo todo contemplam naquele pequeno quadro de da Vinci ou em suas tantas reproduções. E foi tanto o encantamento da descoberta, que fiquei com posição e sorriso enigmático de Monalisa até a aula acabar, o que durou ainda mais de uma hora, fazendo penetrar mais a cada minuto a Monalisa em mim. Eu sabia que muito dificilmente voltaria a ter uma oportunidade como aquela e queria aproveitar cada minuto... Vários anos já se passaram desde então. Há não muito tempo, tive a oportunidade de relatar a Beth a importância dessa experiência para mim e de agradecê-la por isso. Quando eu disse que gostaria de agradecer por algo que ela havia feito por mim há muito tempo, Beth afirmou ter certeza de que eu estava falando da nossa experiência com a Monalisa. - Percebi, no momento mesmo em que compunha os detalhes no seu corpo, o quanto aquilo estava sendo importante para você. – disse ela. - Executei um procedimento comum de sala de aula, que deveria ser uma maneira de agir constitutiva de todos os educadores, mas percebi naquele momento que a importância desse procedimento repercutiria na sua vida. – reconheceu ela ainda uma vez durante os e-mails que trocamos sobre esse assunto. E assim é. É claro que não sou a Monalisa; aliás, ninguém realmente sabe quem ela é: se a esposa de um comerciante florentino, se o alterego de da Vinci, se a representação feminina de uma suposta paixão masculina do pintor. E este mistério já dura quase 500 anos. Mas o fato é que, de alguma forma, a Monalisa, seja ela quem for, está em mim, ganhou vida uma vez mais com a representação que involuntariamente protagonizei, e agora, vive novamente, nos registros que estes escritos hão de conservar. Limeira, quinta-feira, 23 de setembro de 2010

domingo, 4 de agosto de 2013

O Verso e O Reverso

Umas horas atrás estava assistindo na televisão ao caso de um rapaz que tinha um tumor no cérebro e precisava fazer uma cirurgia, cujo resultado poderia afetar a área da linguagem. Se bem entendi, os médicos primeiro o anestesiaram o suficiente para iniciar o procedimento, e depois o acordaram, para que um deles o estimulasse a falar, enquanto a outra, com a cabeça do jovem aberta, mapeava suas reações por meio de exames e decidia qual área do cérebro poderia ser operada sem afetar a habilidade da fala do rapaz. A cirurgia foi bem-sucedida tanto na retirada do tumor quanto em não afetar as habilidades linguísticas do jovem. Os mesmos médicos diziam que um procedimento desses não seria possível há apenas dez anos. Assim, fiquei pensando como a medicina tem evoluído de uns tempos para cá! E nessas reflexões me lembrei de uma outra conversa que tive uma vez, com o meu otorrino – Ricardo - e minha mãe, durante uma consulta. Ricardo me perguntou se eu sabia, fazendo parte também do mundo das pessoas com deficiência, o porquê de muitos surdos serem tão resistentes a implantes cocleares, que poderiam fazê-los ouvir ou voltar a ouvir, se bem me lembro. Relatou-me que sente certo desapontamento com essa conduta, porque os médicos pesquisam tanto, na firme certeza de estarem fazendo um bem, que, nessas tais ocasiões, acaba não sendo aceito pelos beneficiários em potencial. Respondi que não sabia exatamente o porquê, mas que eu igualmente não gostaria mais de voltar a ver, se me fosse possível agora. Recordo-me também da perplexidade de ambos com essa revelação repentina, que lhes deve ter parecido aterradora a julgar pelas reações: - Por quê? – interpelou-me Ricardo novamente, talvez sentindo que, ainda que de uma forma torta, eu poderia responder a pergunta que ele tantas vezes se fizera. E minha resposta, que para mim é absolutamente normal, parece que demorou a fazer algum sentido para os dois. Sou cega há mais de trinta anos. Leio sempre livros e resenhas de livros de Oliver Sax; sei que os procedimentos que ele apresenta nem sempre têm os resultados esperados pelos pacientes, e o Dr. Sax acabou dedicando a vida a estudar os envolvimentos emocionais dos pacientes com suas novas situações. Ainda bem! Porque eu quis muito ver quando era criança e adolescente, mas depois de ter conhecimento desses apontamentos, fui perdendo a vontade e descobrindo que estou bem da forma como estou. Por não ver, meus sentidos do tato, olfato, audição e paladar acabaram por desenvolver-se de modo a me fazer ter as mesmas percepções que todos têm por meio da visão através deles. Sei que a visão é o sentido que mais facilmente dispersa as pessoas. Portanto, suponhamos que eu me submeta a algum procedimento médico revolucionário e passe a enxergar, digamos, 10%. Sejamos realistas e práticos: conheço bastante gente com baixa visão; 10% nada significam no desempenho de grande parte das atividades cotidianas, isso para não mencionar as incomuns. Assim, além de não poder contar com a visão, eu ainda teria diminuído o desempenho de meus outros sentidos, por influência desses 10% de visão que “receberia”. Desculpem a falta de modéstia, mas eu só aceitaria uma cirurgia como essas se me fosse garantido resultado positivo, 100% e colorido! Sei que estou pedindo demais, porque esse tipo de garantia ninguém dá, nem pode dar. Logo, desculpem os bem-intencionados que me desejam visão, elevando preces a Deus por isso a cada dia, mas me sinto bem da maneira como estou. E essa é a opinião de vários outros cegos que conheço e com quem convivo diariamente. É claro que, no meu caso, há uma escolha. Ainda que não compreendida por muitos, é uma escolha possível e factível. O rapaz do programa a que assisti não podia escolher. Naquele caso, a cirurgia era tudo ou nada; graças a Deus, deu certo. E graças a Deus, Ricardo compreendeu também minha posição, anunciando que era preciso respeitá-la, que era preciso respeitar cada pessoa em suas diferenças peculiares; talvez essa posição tenha até mesmo trazido um pouco de luz à reflexão sobre esse tema, que já o acompanha há tanto tempo. E fico feliz também porque o posicionamento dele acabou convencendo e aparentemente trazendo também algum conforto para minha mãe. Explicar e fazer compreender uma escolha como a que fiz sempre é uma tarefa difícil, ainda mais para os familiares, que de um modo ou de outro idealizam o contrário; que bom que consegui!

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Sim, Santidade!

Em minha vida relativamente curta, como Católica Romana, fui “liderada” por três Papas: João Paulo II, o Papa polonês, sumo-pontífice da Igreja desde que me conheci por gente; Bento XVI, bávaro, sucessor de João Paulo II; e Francisco, argentino, atual Papa, no momento presente no Brasil em decorrência da Jornada Mundial da Juventude, agora em curso. De João Paulo II tenho a lembrança de um papa carismático, simpático, embora já debilitado pelo atentado sofrido no início da década de 80 por parte do turco Ali Agca. Sua voz tranquila e débil é uma lembrança muito vívida em minha memória. Noentanto, em imagens de arquivo, pude constatar que, mesmo quando mais jovem, no início de seu longo pontificado, João Paulo II já era carismático, bem-disposto, aparentando energia, sempre muito respeitado e benquisto pelos fiéis. Admiro seus esforços para criar proximidade com as demais religiões. Creio que esta deve ser uma postura sempre mantida pela Igreja Católica Romana, pois o eculmenismo é uma das chaves de um mundo melhor. Minha relação com o Papa Bento XVI, como a de grande parte dos Católicos Romanos que conheço, foi e ainda é de reserva. O respeito rendido por parte dos fiéis em decorrência de seus oito anos de pontificado sempre pareou com a reserva. Não o descreveria como um Papa carismático. Sua ilibada reputação como intelectual, para mim, está permeada pela aparente seriedade dos modos que demonstrou. No entanto, Sua Santidade angariou meu profundo respeito quando teve a coragem suficiente para assumir que já não dispunha de forças para levar adiante seu pontificado e a humildade suficiente para renunciar em nome de outro potencial Papa que tivesse a energia e saúde necessária para conduzir a Igreja Católica Romana adiante. Lembrar-me dos últimos tempos de João Paulo II ao ver a expressão já cansada de Bento XVI me fez temer que o mesmo sucederia com o nosso Papa bávaro. Estou certa de que o agora Papa Emérito Bento XVI está sempre com os fiéis que liderou, em oração. E para sucedê-lo os cardeais escolheram o primeiro Papa latino-americano e o primeiro da Ordem Jesuíta, o então cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, que quis para nome Francisco, como Francisco de Assis, e honra a simplicidade do santo que homenageia, demonstrando energia, humildade e instituindo reformas necessárias na Cúria Romana, bem como aproximando-se dos fiéis, abençoando doentes e crianças por onde passa, deixando-se tocar, quebrando protocolos, recusando e abolindo luxos e perdularismos que, afinal de contas, são bancados pelos crentes Católicos Romanos mundo afora. Devo recordar ainda a forma carinhosa como o Papa Francisco sempre lembra a presença viva do Papa Emérito Bento XVI, visitando-o quando é possível e não deixando morrer suas contribuições e ensinamentos nas mentes de seu rebanho. Atualmente no Brasil, mais precisamente hoje (24 de julho de 2013) em Aparecida do Norte, é o primeiro discurso oficial de Sua Santidade no país, em português perfeitamente claro, que me leva a escrever, estreando este blog da melhor maneira possível. O Papa Francisco declarou saber que para chegar aos brasileiros era preciso que fosse por meio do coração. Diz ainda que gostaria de bater delicadamente a esta porta. Sua proximidade com os fiéis e as ternas imagens por ele evocadas conquistaram todo o país de maneira instantânea. Para quem não viu, segue o link: http://www.youtube.com/watch?v=5QD0h38Jxsw “Santidade: se tal me fosse concedido, eu vos diria que, logo depois que o mundo soube quem seria o novo papa, por vossas primeiras palavras a ele dirigidas, tocastes os corações, não apenas dos brasileiros, mas de cada Católico Romano que caminha sobre a Terra! Delicadamente, tocastes cada coração do rebanho que vos foi confiado. Desejo-vos uma vida longa e saudável e um longo pontificado”. Como Católica Romana, sinto-me acarinhada pela presença terna, sorridente e protetora de Sua Santidade o Papa Francisco. Penso que a Igreja Católica Romana estava necessitada de um líder que lhe propiciasse reaprender os sentidos da humildade, não ostentação e simplicidade com maior aprofundamento e cunho prático. Que possamos assimilar a lição e torná-la parte efetiva de nossas vidas, honrando a postura de Francisco, de ambos os Franciscos, e iniciando, com esse processo, a construção de uma nova Igreja Católica Romana, plena de singeleza, de humildade e de uma nova espiritualidade em Cristo. Salve, Francisco!